sexta-feira, maio 07, 2004

"Menina dos olhos tristes"

Música: Adriano Correia de Oliveira
Letra: José Carlos Ary dos Santos

Menina dos olhos tristes,
o que tanto a faz chorar?
O soldadinho não volta
do outro lado do mar.

Vamos senhor pensativo,
olhe o cachimbo a apagar.
O soldadinho não volta
do outro lado do mar.

Senhora de olhos cansados
porque a fatiga o tear?
O soldadinho não volta
do outro lado do mar.

Anda bem triste um amigo,
uma carta o fez chorar.
O soldadinho não volta
do outro lado do mar.

A lua que é viajante
É que nos pode informar.
O soldadinho já volta
está quase mesmo a chegar.

Vem numa caixa de pinho,
do outro lado do mar.
Desta vez o soldadinho
nunca mais se faz ao mar...

segunda-feira, maio 03, 2004

Música de sentir


Hoje amei-te... enquanto não vias.
Hoje amei-te... enquanto me olhavas.
Hoje amei-te... enquanto me amavas...

Ouvi a tua música no silêncio que me habitava. Ouvi, mudo, olhando apenas o escuro do quarto, tacteando à  minha frente, a medo, à procura, quem sabe, de um indí­cio teu. Queria o silêncio absoluto, para melhor te ouvir. Escondi-me de mim, não respirei e fechei os olhos. Como era longínqua e fraca a música que sentia... Era como se soubesse que existia, mas não sabia onde... Agora, baralham-se-me as palavras, atropelam-se correndo e tropeçando para me ajudarem a explicar... Mas a explicar o que? Explicar aquilo que só o silêncio e a tua música, que hoje sinto, conseguem explicar.
Canta, canta para mim...
Até te ouvir, não acreditava que tal som pudesse existir, sequer ser pensado, ou sentido...

Da minha paixão, só eu sei.
Do fogo em que ardo, só eu sei.
De ti, apenas música escutei...

Enfim, adormeci... adormeci profundamente, caí num sono de paz, embalado por uma música que mal conseguia perceber... E adormeci. Lá fora, o calor do dia subia em direcção à  lua, quem sabe para a proteger de uma noite fria, envolvendo-a em abraços quentes, redobrando o seu brilho, para que nos ilumine em noites de silêncio, como esta.
E não sonhei, dormi profundamente horas e horas, mas sentia que a qualquer momento podia acordar, porque enquanto dormia, ao luar, a tua música foi-se aproximando, tornando-se mais perceptível, mais clara, mais pura... Mas não era ainda o momento, ainda não estava suficientemente perto... faltava ainda.
Eu queria acordar, queria levantar-me para te procurar! Mas dormia ainda... Queria correr, correr atrás dessa música que me fascinava, que me invadia, que me percorria o corpo em sobressaltos! Mas dormia ainda... Era noite...

"A noite passada acordei com o teu beijo...
Cantavas sou gaivota e fui sereia...
Então olhaste, depois sorriste...
Abriste a janela e voaste..."
É dia, foi noite, aqui, ali...
Vieste, cantando, e eu não te vi...

Acordei finalmente, com um beijo quente, que me tirou do sono em que me via preso... Estava preso de mim, estava preso de ti, porque quis procurar-te e não consegui... estava simplesmente preso, se é que se pode estar simplesmente preso... Senti então a tua música aproximar-se, cada vez mais alta, para mim, até que a porta do quarto se abriu diante de ti, diante da tua música, como se ela própria pudesse sentir, em cada veio da madeira, em cada farpa os sons, os tons de que é feita a tua melodia... E porque não?? Afinal, também ela é, foi (que importa?) parte da natureza.. A mesma natureza sublime, Absoluta, que te pôs aqui, a cantar, flutuando, para mim.
Até te ouvir, não acreditava que pudesses existir, não alguém como tu, que me pudesse embalar, deixar num puro estado de sono, mas adivinhando cada passo teu...
E agora escrevo-te, amo-te, escrevo-te de novo! reinvento-te, para que me não possas fugir... E eu sei... não me vais fugir... voltarás sempre, para mim... Agora que te sei, que te ouvi, que escutei a tua música de sentir, quero-te para sempre, cantando, perfeita.. Agora que te conheci, quero-te para mim...
"PARA QUE NUNCA MAIS..."
E cantando saí­ste pela janela, voando... É já de dia, o sol aquece... voltarás, quando o calor me deixar, nos deixar... E hoje vejo, escuto, sinto, provo a tua música de sentir, doce sempre, quente sempre...