sexta-feira, outubro 15, 2010

Como se fosse uma imagem proibida, como se a refracção da luz mais clara do dia nas pedras escurecidas do castelo lançasse na sombra um rio desde a fresca nascente até ao doce estuário, como se na copa das árvores se pudesse apenas ver o chão que nos reclama, as paredes já pouco brancas das casas que nos dão os ombros perderam o toque furtivo dos teus dedos, e foi um dia de sol que os levou, ainda a primeira luz horizontal nascia a dois braços da minha janela, e os olhos que a seguiam, onde foram pousar, quem os cegou com o toque furtivo de dois dedos que implacavelmente avançavam debaixo do gelo e da sombra para me encontrar, fomos por esses desertos à procura dos rios irmãos até que as sandálias que nos levavam não puderam mais, então as deixamos sob um sol desenhado a prumo, os nossos pés, depois, caminharam nessas areias onde o contorno do corpos que nelas se deitam de noite fica gravado através dos séculos, e assim ficará gravado nas areias do deserto, próximas dos rios irmãos, o desenho dos nosso corpos

e lá em cima

a luz que caía das pedras do castelo atirava os seus braços esguios e luminosos a uma profundidade desconhecida, estelar e fria, sempre os corpos mais frios e distantes aceitam os calor que lhes chega, a estes não se pode recusar, ainda que magra lhes chegue, a luz que das muralhas nasce.