sábado, agosto 28, 2004

Esta noite, caminhei
pelos segredos dos teus olhos,
pelo silêncio vacilante
dos teus ombros...

Amanhã, quero pintar
um beijo de neve
na cor dos teus lábios.
Estilhaços ao vento

Viajo uma vez mais entre as folhas do caderno onde escrevo e o cheiro do teu cabelo, dos teus caracóis profundos. Não restam agora mais do que pequenos parrapos tímidos do meu coração, os que sobram da última batalha que travei com os teus doces olhos negros... Cansado, exausto, olho para ti à procura de um canto fresco onde te possa amar descansado. E agora que te peço que me guardes contigo por algum tempo, bem junto a ti, no porto seguro de cada lugar teu, sei-o: não tenho muito tempo para ser só teu.

Hoje, não tenho mais do que pequenos pedaços de vento na minha janela, pedaços teus no meu coração, estilhaços teus abraçados a mim, para sempre. Hoje, voei na doçura de duas madeixas de caracóis que há muito havia perdido. Reencontrei-as esta noite: sorriste. E nos meus lábios o beijo indelével que guardo para ti. Desde sempre.

À noite o vento trespassava o teu cabelo e parecia querer soprar cada fio que caía sobre os teus ombros, com a frescura de cascatas perdidas no meio de florestas insondáveis. Invejo-o, por te poder abraçar sempre, tocar sempre com dedos mais leves que os meus... e que tão docemente te afasta os cabelos da testa, bastando-lhe respirar para te visitar sempre...

Como o mar se precipita para terra,
também eu assim corro para ti...