sábado, setembro 10, 2005

Setembro #1

Setembro: que lugar para dormir - ou nessas folhas ardendo pelo chão da tarde.
A sombra desse beijo que trazia abria-lhe nos lábios um corte profundo de cor escura. Era outro rosto, outros desenhos de ti que ele esperava, talvez pintados a lápis de cor e sem sair do limite. Mas esses olhos que usas teimavam em sair da própria luz do dia, exilados de ti numa outra margem ou pedaço de céu. Fugiam sempre, penetrando noutras fendas da minha pele. Era a tua voz que queria, para ir colher o roxo das manhãs, ou essa luz escura que cai depois do Sol.

Hoje, tentei deslizar sobre a tua pele, querendo voltar a esse corpo de sal. Partir para não chegar, e sobretudo não voltar... sair de mim, voltar a ti, ser tudo o que não sou para ser tudo em ti. Ser-te, e voltar a mim no mesmo instante, sem pensar se me perdi ou se te encontrei. Gozar de toda a liberdade poética para te ousar, ir buscar-te onde não estás e deixar-te comigo onde não estávamos, estar contigo em lugar nenhum e visitar todo o lugar. Não te rias. Nem sempre o sonho serve para nos rirmos dele.

A sombra desse beijo que trazias abriu-me nos lábios um corte profundo de cor escura, uma fenda para onde te vais esgueirando e espreitando para dentro de mim. Descansa. Setembro: que lugar para dormir. Descansa: "o amor não contempla, sempre o amor procura".
...Eternity was in your eyes, and lips...

quarta-feira, setembro 07, 2005

Voar era fácil... essa tua luz fria
inclinava-se nas minhas asas
e voava. Não sobre esta
ou outras paisagens, gastas pelos
quadros. É de outro corpo que falo.

Voava noutros lábios,
outras águas, ocultas em ti,
elípticas descrevendo espirais
nesse cabelo que é mel
e alma tua...

Voava no fundo do tempo, sem lugar
que me chamasse, ou rosto. Voava
pelo Sol da pele, na manhã parada,
ainda azul. Aqui me tens, voando
para ti, branca e nua...