segunda-feira, setembro 15, 2008

indiferentes ao desejo
indiferentes ao frio
os ombros escolhem as mãos
duas mãos apenas
que não escureçam
as ruas onde estás não escurecem
apenas a noite
os olhos abertos
o rumor
os rumores abertos
entre os passos
cobertos os espaços
de ti
hoje não estás, hoje não és
assim, um corpo
margens brancas
planície sol aluvião
o mar é uma colina verde
o mar é todo o sangue
que não se perde
deixa ao menos um pouco de ti
no fundo dos meus braços
no fundo do mar

deixa ao menos um pouco de sol
o inverno que não acabe
nunca
indiferentes ao desejo
as noites passam debaixo
da minha janela,
essa luz tão fria
a cegar-me os dedos
esses dois braços
que eu queria
e no fim deles duas mãos
que não escureçam
duas mãos e o arco que descrevem
como se a lua tão perto

que ausência a tua
com quantas letras se escreve
a palavra longe, com quantos dedos
se contam três mil quilómetros,
tu
a meio dia do outro lado da terra
e os meus braços
que não chegam
dois braços
simulando os espaços
a meio caminho do desejo.