terça-feira, setembro 21, 2004

1.5.0.9.0.4

Noite. De novo. Dois corações batem juntos debaixo da humidade fria de uma noite de Setembro. As palavras, com frio, juntam-se aninhadas em frases quentes, conjunções e locuções sobem pelo ar adentro. Olhares que se cruzam, primeiro longe, depois caminhando já em passos rápidos ao encontro uns dos outros. Intermináveis. Doces. Quentes. Na areal claro dos teus sorrisos, o mar de ondas negras levanta-se com a brisa que acordou já tarde na noite... Cascatas perfeitas de negros caracóis pendentes soltam a espuma vibrante na pele morena de ombros escondidos, longe de tudo, quase indiferentes. Ou quem sabe mais perto do que se imagina. Noite, ainda. Palavras que se atiram como beijos que se não deram ainda, que esperam ainda algures, impacientes, frenéticos, na fila de espera já longa de lábios que teimam em não se tocar... tanto para dizer. Tanto para olhar, tanto silêncio para se usar. Milhares de ondas escuras, aos pares, levadas ao vento, ainda por marear; tanto pôr-do-sol do outro lado para se ver... tanto, tanto...
Olhos descaídos. Aqui. Eu só...? Não. Um sorriso. Tu aqui. Ao meu lado. Presente. Finalmente. "Ele queria vê-la. Agora." E o agora tão perto, tão perto, depois do longe... Bastava esticar o braço, devagar, depois a mão; abri-la para a humidade fria de uma noite de Setembro, fechar os olhos, bem fechados, abraçar as pálpebras por uns segundos, não as deixar abrir. Noite. De novo. Depois das palavras, depois do fim, o retorno ao princípio. Uns segundos em rewind, sem ordem, sem regras; tudo ao contrário. Foi assim que nos reinventámos, que nos voámos para longe daqui... Beijámos juntos o indizível, aquilo que não nos dizemos nem para nós...
Noite. De novo.

A luz, o mar e o vento. Tu...
Abrir a mão e resgatar tudo isto do ar,
num grito e num beijo doce!
Abraça-me. Hoje.

De repente, na noite, de novo, no mar, o azul-trovão espelhado nas ondas de céu. A cor, o movimento de luz diante de nós. Tu.. eu... Parou o tempo! Só o espaço resistiu à explosão, sem ferimentos, intacto. Uma noite. A nossa. O plano-convexo de cada areal vazio, de cada olhar perdido no escuro de nós, hoje esquecidos. Tudo me sabe a ti, perto de estares aqui. Uma noite. De novo. De novo. De novo. Para sempre...

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